O Virtual e o Real.

August 20, 2010 § 13 Comments

O tempo, muitas vezes, deturpa o significado das palavras.

Na antiguidade clássica, prostitutas eram as mulheres que se prostravam nos templos dos cultos lunares onde deveriam fazer sexo com um estranho que pagasse para tanto.

O engraçado era que todas as mulheres faziam isso. Algumas pela vida toda, as sacerdotisas, outras apenas para obter as bençãos da Deusa da Fertilidade da época.

O sexo com essas prostitutas era considerado sagrado, admitindo-se que o homem não fazia sexo com uma mulher, mas sim com a representante da Deusa (tipo quando a polícia de Diadema te dá um tiro: você foi agredido pelo Estado), de forma que não contava para fins de defloração.

Ou seja: pra um casamento ser abençoado, a mulher tinha que viver um dia como puta. As coisas de fato mudam.

Mas tergiverso: tudo isso foi pra falar que o título do post não tem nada a ver com computadores, internet ou as ditas amizades virtuais.

Tem a ver com física. Pra ser mais preciso, óptica geométrica.

(Isso mesmo,  o ramo da física que estuda a o comportamento da luz ).

Dentro de um sistema ótico possuímos dois tipos básicos de imagem: as imagens virtuais e as imagens reais.

Eu era uma anta em óptica geométrica, mas a definição simples é: Imagem Virtual é aquela formada pelo prolongamento dos raios de luz que são percebidos pelo observador, enquanto a imagem real é a imagem formada pela projeção dos raios de luz.

Na tela do cinema, as imagens são reais, num espelho, as imagens são virtuais.

Pense que o que você vê no espelho não está lá: é uma construção feita pelo seu cérebro que interpreta aqueles raios saindo de lá de criando uma imagem para justificá-los.

Sim, eu sei, isso abre incontáveis possibilidades para posts, mas eu não quero falar sobre isso. Ainda.

O fato é que ao observar algo, muitas vezes, passamos por alguns problemas.

Por exemplo, demorou alguns anos para conseguir medir a altura do Everest porque a diferença na pressão atmosférica agia como uma lente. Ou seja: A imagem que tínhamos do Everest não era real: era virtual.

Por outro lado, diversas estrelas que vemos não estão mais lá. Eu sei que é impreciso usar o termos “imagem virtual” para nos referirmos à imagem que temos delas, mas de certa forma, é isso mesmo que estamos vendo: uma imagem decorrente do prolongamento dos raios de luz que saíram daquele objeto milênios atrás.

Ou seja: se hoje mirássemos naquela estrela e mandássemos uma nave para lá, tripulada com um highlander, quando ele chegasse lá, daqui a alguns milhões de anos, tudo o que ele encontraria é um buraco negro, uma anã branca (ou marrom, sei lá), algum outro corpo celeste que sobrou, ou meramente espaço vazio.

E esse é o risco que corremos quando nos deixamos guiar por imagens: descobrir que o real não estava onde pensávamos, mas estava sim, em outro lugar.

Claro, não quero dizer que não devemos ter objetivo algum: um objetivo errado te leva mais longe que a ausência de objetivos, fora que, na pior das hipóteses, você vai poder chegar lá e descobrir que a montanha não era mesmo tão alta e que as uvas estavam verdes mesmo.

Mas VOCÊ vai saber. E diante desse saber, vai poder escolher novos objetivos.

Mas eventualmente pode ser relevante pra você saber que é melhor não entrar naquela nave pra tentar alcançar aquela estrela.

Em primeiro lugar, porque ela não está mais lá. Em segundo lugar, porque você não é nenhum highlander.

§ 13 Responses to O Virtual e o Real.

  • Karina says:

    Ruim não é tanto ela não estar mais lá. se a luz da estrela faz a noite bonita, que me importa que ela não exista mais? vale o que me toca. e qd n houver mais luz ela será passado, mas o que me provocou será presente.
    Ruim é se dar conta de que ela nunca esteve.

    Ilusões de ótica e ilusões de… ilusões.

    Mas só se desilude quem um dia se deixou iludir :)

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    • Anarcoplayba says:

      Ela enfeitar a noite é lindo… e ainda temos algumas estrelas que iluminam a nossa noite de hoje tendo brilhado apenas no passado…

      Até mesmo amores inventados são belos…

      O problema é você entrar no foguete.

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  • Petite Poupée says:

    Anarco, e toda viagem não é uma descoberta (principalmente de si mesmo)?

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    • Anarcoplayba says:

      Sim, é… o triste é você descobrir que você é uma pessoa que se tranca em um objetivo único que pode ser que nem exista mais.

      Oh, wait… Descobrir isso não é triste. É alegre: te permite descobrir, compreender, superar, e seguir em frente.

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  • Laura says:

    Tudo tem o lado bom. Foi por causa de uma viagem de foguete que descobri o teu blog.
    Muito bom esse texto, Anarco.

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  • Carolina Devens says:

    Acho que a imagem da estrela é real, só é antiga. Mas o resultado da análise leva ao mesmo resultado: Não pegue o tal foguete!
    Muito bom mesmo.
    Engraçado, esse negócio de ver estrelas ultimamente está recorrente por aí.

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