O Ascensorista.

November 30, 2010 § 13 Comments

“Perdeu uma bala juquinha, pq 10 de cada 10 pessoas responderiam que querem ser felizes. Em tese, é o mesmo querer.”

Se perguntarmos para uma pessoa se ela quer ser feliz, obviamente, ela vai responder que sim.

No entanto, achar uma pessoa genuinamente feliz, que fale isso com os olhos é mais raro que encontrar uma flor de cerejeira perfeita, ou que o desabrochar de uma flor de lótus.

Minto, não é.

Eu tenho o privilégio de todos os dias (ou pelo menos três vezes por semana) ver uma pessoa que está sempre feliz: O Ascensorista do prédio em que eu trabalho.

Não sei o nome dele. Não sei onde ele mora, não sei qual a história da vida dele. Tudo o que sei é que ele, por trás de seu bigodinho, sempre tem um sorriso, uma brincadeira, uma palavra boa para falar para alguém.

É possível encontrar pessoas felizes sim, e elas existem, ainda que proporcionalmente em um número pequeno.

Questionei se vocês acham que os outros querem a mesma coisa que vocês.

Recebi a resposta de que todos querem ser feliz.

Primeiramente, essa resposta não responde nada. Seria como dizer que a resposta de toda equação é X, ou que o resultado da Mega Sena serão seis números: é uma resposta perfeita e correta, mas irrelevante.

A resposta relevante é o valor de X, ou quais os seis números da Mega Sena.

“Mas isso é óbvio, a felicidade é diferente para cada um, mas o impulso primal de todos é ser feliz, você está complicando com um jogo de palavras uma questão irrelevante.”

Sim, concordo: mero jogo de palavras complicando uma questão irrelevante.

Mas não é a existência de um mero jogo de palavras a respeito de uma questão irrelevante que oblitera a relevância de determinada questão.

E a questão realmente relevante é, com o perdão da paráfrase não autorizada: O ser humano quer ser feliz e não sabem como, ou o ser humano não quer ser feliz?

As pessoas sofrem. Isso é inegável. Espero que pelo menos mais alguém aqui concorde comigo que as pessoas sofrem, porque se for só eu que vejo isso, acho que vou ficar bem preocupado.

Agora, lado a lado de coisas que as pessoas “não podem escolher” e são relevantes (a morte de um filho, por exemplo) ou irrelevantes (querer e não conseguir, sei lá, comprar uma Ferrari), caminham as coisas que as pessoas podem escolher.

E o exemplo mais simples e direto a esse respeito são os relacionamentos.

Perceba: eu, por questões pessoais, filosóficas e até mesmo religiosas, creio que o nosso poder de Escolha, o nosso Arbítrio, é infinitamente maior do que imaginamos, no entanto, isso é desnecessário para essa discussão.

Para essa discussão apenas é necessário perceber que algumas pessoas escolhem a infelicidade.

No instante seguinte, obviamente, a resposta mais rápida é: “A infelicidade é a felicidade dessas pessoas, tal qual a dor é o prazer de um masoquista.”

Sim, é verdade: A dor é o prazer de um masoquista, e, sendo assim, possivelmente, a infelicidade é a felicidade do infeliz.

Talvez.

O problema é quando se percebe que discurso, manifestação e intenção não são coerentes. A pessoa que diz que quer ser feliz, assim o deseja de coração, mas não se comporta assim.

Felicidade seria, então, a coerência entre seus desejos, atos e pensamentos.

E nem todo mundo age de acordo com o que deseja, mesmo diante do poder total e completo sobre aquela determinada situação (não precisam ser todas as situações, basta um exemplo contrário).

Então, novamente, questiono: será que todos querem a mesma coisa? Mesmo que essa mesma coisa seja uma dita felicidade carecedora de definição?

I doubt that.

§ 13 Responses to O Ascensorista.

  • Gueixa says:

    Vamos lá…
    Eu acho essa “tal felicidade” uma figurinha difícil de ser definida.
    Penso que na maior parte de nosso tempo acordados,somos felizes.
    A busca pela felicidade na maior parte das vezes é confundida com a busca pela satisfação. À meu julgamento (sob sensura rsrsrsrs).
    A busca pela satisfação é mais complica.
    O que queremos? Por quanto tempo? Em que medida? Que venha de que forma?
    Eu, por exemplo, hoje, quero coisas muito diferentes do que já quis.E a maior parte de meus desejos não foram satisfeitos. eles se tornaram,inclusive, mais simples.
    Com o passar do tempo a gente começa a perceber a vida de maneira diferente, mais simples, menos competitiva, mais calorosa.. Há momentos em que temos, até, a ilusão de que estamos no pleno domínio dessa preciosidade que é a vida. Aí ela vem e nos kostra o nosso real tamanho.
    E Mano…somos pequenos muito pequenos.
    Nos deixamos abalar por tanta bobagem…Hahahaha…
    E nessas horas é que nos julgamos “os infelizes” buaááá´…
    Agora, respondendo ao seu texto: o que queremos? Hoje eu queria ir ao Japa com a Nina. isso me faria feliz à beça.
    beijos

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    • Anarcoplayba says:

      Pessoalmente eu quero encontrar o sentido da vida, a iluminação espiritual, construir castelos, escalar montanhas, capturar o vento em redes de pesca e libertá-lo na forma de brisa na direção dos amantes, reverenciar o olho de fogo do sol, sonhar com toda a sabedoria do mundo em uma noite e acordar sábio.

      Depois disso, aceito um cupcake.

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    • Nina says:

      Aeee Teté! Te deixei japa-dependente! ;-)
      Já já a gente marca nossa próxima janta! E discutiremos sobre felicidade. Satisfação. E depressão pós prato.

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  • Karina says:

    Teté, legal vc falar sobre isso. Eu n ia comentar, pq fiquei com preguiça de e tb achei desnecessário desenvolver o assunto, mas o que vc falou me remete às coisas em que andei pensando por estes dias, que se reduzem ao fato de que felicidade é, sim, um desejo de todos. Como cada um entende sua felicidade, conforme já foi dito e redito, são outros quinhentos. Mas não é sobre isso que quero falar. Quero falar sobre a que eu me referia qd disse à Petite que “ser feliz” é dizer tudo dizendo nada. Pq eu falei tb que “ser feliz” engloba tudo que possamos querer. Mas eu me expressei mal. Pq felicidade, tal como entendo, está ao mesmo tempo muito aquém e muito além disso. Pq a felicidade é um estado que independe de tudo aquilo que eventualmente desejamos. Nossos desejos mudam, como vc falou. Principalmente, nossa percepção sobre a vida, e como a vivemos, não é uma constante.
    Eu desejo muitas coisas, materias e imateriais. Mas que diabos me garante que são essas conquistas que vão me trazer “felicidade”? Isso já foi falado aqui no blog tb, então não há muita novidade no que estou dizendo. É que de repente me vi repetindo um discurso que não satisfaze o que eu penso. Pq a felicidade está atrelada a muitos fatores, mas ter realizado aquilo que desejo não creio que seja determinante para que eu me sinta feliz. São conquistas diferentes. Felicidade, enfim, é um sentir que não cabe em palavras.
    Qd desejo a alguém que seja feliz, desejo intimamente todo o não-querer que implica ser feliz. É o que me desejo tb.

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  • Petite Poupée says:

    Eu sei exatamente o que me deixa feliz e, por conseguinte, me traz felicidade: dias de sol brilhante; fazer amigos; conversar com velhos amigos; gestos de gentileza; momentos de delicadeza; cheiro de terra molhada; ver o amanhecer; caminhar por minhas próprias pernas, conhecer coisas novas; saber que ainda existe joaninha onde eu moro; poder desejar; poder amar; poder sonhar e resonhar, lembrar dos sonhos!

    Qt à Ferrari, eu estou trabalhando pra isso( e talvez nunca consiga) mas meu fusquinha tá lanternado, e tá bom pra caramba!

    Sabe Anarco, eu vou partir desta vida muitíssimo satisfeita e feliz se eu tiver reafirmado todas as minhas escolhas. E poder dizer pra mim mesma: Missão dada, Missão cumprida! Até porque, a primeira vez é sempre a última chance.

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  • Nina says:

    “Qd desejo a alguém que seja feliz, desejo intimamente todo o não-querer que implica ser feliz”

    Per.fei.to.

    :-)

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  • Nina says:

    Pq a felicidade vem de mansinho.
    Despida de desejos e de circunstâncias.
    E ela grita, em silêncio.
    Ela rasga um sorriso no rosto. Deixa cicatrizes, aliviando toda a dor.
    Pseudo-dor.
    Pq felicidade, Felicidade, não tem fim. Não tem começo.
    Felicidade É.

    E mais do que SABER o que é felicidade, o que importa é SER felicidade.
    E aí use e abuse dos clichês.
    Só eles para dizer o indizível.

    Afinal, como dizia sábia Karina:

    Felicidade, enfim, é um sentir que não cabe em palavras.

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  • […] Isso acarretará em felicidade? Depende de como você está definindo felicidade. […]

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