Casa V.

December 6, 2013 § 11 Comments

Vamos pra casa? Não pra sua ou pra minha. Pra casa de infância. Casa de avó. Pra casa de sonhos, na qual somos piratas, ninjas, cavaleiros e astronautas. Na casa onde a sobremesa vem antes da janta e não precisamos comer a salada.

Vem e me guarda. A sete chaves e com chave de ouro. Me guarda no peito, no bolso e no olhar. Não me economiza. Me guarda sem medo de gastar. Se veste de noiva pra nadar no mar. Joga futebol no seu baile de debutantes. Toma iogurte em taça de prata.

Vamos que com você eu sou mais eu. Pra você eu sou mais eu. Porque eu quero a prisão da sua queda livre. Eu trocaria o paraquedas por uma pirueta. Eu bateria asas pra acelerar.

Você é o destino meu livre arbítrio. O cumprimento sem compromisso. A promessa quieta sem juro ou risco. Um casamento sem padre nem testemunha. Sem aliados nem alianças, pois beijos e abraços não são promessas e contratos.

Vai, me recebe na sua casa. Abre as portas e fecha as janelas. Me recebe como se eu fosse o último hóspede. Porque você é minha última estada. Perdoa o atraso. A estrada era longa e a noite foi negra. Deixei minhas lágrimas e perdi estrelas. Carreguei muitas malas enquanto você se cansava.

Vem descansar, amor. Descansa no hoje que o amanhã vai vir. Viva no agora que ele vira pra sempre. Dorme na noite até ela virar um sol, rompendo em aurora e socando as retinas. Rompendo as pálpebras dos bêbados e das cafetinas. Segura minha mão que o sol já vai nascer e é hora de dormir. É hora de sonhar enquanto os padres rezam as missas, os banqueiros fecham contratos e os ternos vazios ligam os computadores.

Vem que nós vamos rasgar as pálpebras das estátuas de pedra, correr a cavalo nos trilhos do metrô, comer pão com manteiga molhado no café com leito, ofender o bom senso, o carro do ano e a previdência privada.

Vem viver de brinde surpresa e manhã de natal. De subversão e de ser voluntário. Guerrear contra o ordenado e o ordinário. Vamos arremessar pétalas de rosas ao mundo enquanto nos agredimos a golpes de beijos. Vamos grafitar com tinta invisível praças, pontes e leitos. Que hoje o agora é pra sempre.

§ 11 Responses to Casa V.

  • Karina says:

    que bonito! muito.

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  • Anarcoplayba says:

    Venho emprendendo meus melhores esforços, pode acreditar…

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  • Elisa says:

    Adorei!

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  • Luana says:

    Quase chorei lendo esse texto rs Que saudade de viver um amor assim!

    Parabéns, ficou muito bonito.

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  • Fy says:

    – awesome !

    Embora atravesse as fronteiras da Terra do Nunca, ondeia uma observação bastante sutil e profunda ao imaginário feminino – quase-comum – povoado por heróis-resolvem-tudo e eternamente não encontrados em quem tem pele e respira .

    O Amor não procura Heróis, – ah …. mas também … não procura Fadas ….

    – e então … eu era herói ….

    – Agora era fatal
    Que o faz-de-conta terminasse assim
    Pra lá deste quintal
    Era uma noite que não tem mais fim ….

    Não especificamente para homens, – embora mts vzs eles se sintam assim – mas tb para mulheres : … não é raro que aconteça: – enfim : para seu post:

    bj,
    Fy

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    • Anonymous says:

      Hahahah. Ótimo comentário. Um pouco de possível !

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    • Anarcoplayba says:

      Ah, meio off topic, mas me lembrei de um trecho de “A Liga Extraordinária”, quando Mr. Hyde se voluntaria para atacar, de peito aberto, os tripods alienígenas, sabendo que seria morto e Mina Harker o interpela: “Mr. Hyde? Você faria isso? Você nos salvaria? Você se sacrificaria em nosso bem?” e ele responde “Hum? Oh, sim, claro. Creio que é o que parece, não? E de pensar que tudo o que eu queria era matar alguma coisa.”

      Parece romântico, sim… Mas é tão mais solitário do que parece. Não é para ser um herói ou um protetor… não que isso não, eventualmente, aconteça.

      Todo mundo tem o direito de caminhar com todo mundo… Mas mais do que isso, todos também têm o direito de caminhar sozinhos lado a lado. Até mesmo porque, eu quero viver em um mundo com menos correntes e mais laços.

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  • Fy says:

    – Mas mais do que isso, todos também têm o direito de caminhar sozinhos lado a lado. –

    ah…. mas é a forma mais garantida de não se estar sózinho .

    bj
    Fy

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  • Anonymous says:

    Inspirador =D

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