Sobre Percepção e Ego.

December 10, 2009 § 7 Comments

Ok, recentemente, no Blog do Fábio Hernandez (link do lado, é o do “Homem Sincero”) o grande tema foi sobre “sinais” de que uma bota se aproxima no horizonte.

Quem me conhece sabe que esse tema (sinais, não botas no horizonte) me fascina.

Primeiro porque minha insegurança crônica faz com que eu mantenha meu radarzinho alerta o tempo todo.

Segundo porque cara… É REALMENTE divertido. Eu ADORO prestar atenção nos trejeitos, atos, maneirismos, atos-falhos e sinais que as pessoas emitem o tempo todo.

Terceiro, porque é útil pra caralho. Mais de uma vez peguei mulheres por causa disso. Cheguei até a ajudar alguns amigos. Se eu ganhasse uma tequila cada vez que eu disse “Ei, às suas três horas, dois metros e meio de distância: morena, um metro e setenta e cinco, sessenta e cinco quilos, calça jeans, blusinha verde e pingente de lua, vai na fé que ela tá afim” eu teria terminado muito mais baladas muito mais bêbado.

Uma parte interessante disso é que você, como em quase todo o aprendizado, vai somando camadas de complexidade à análise.

No começo você observa o grosseiro: braços, pernas, posição de tronco e cabeça, boca, etc. Dicas óbvias, que qualquer um que tenha lido alguma coisa sobre body language um dia entende. Quero, não quero, desejo, não desejo, me agrada, me desagrada, concordo, discordo.

Aí você começa a prestar atenção nas pequenas coisas. Começa a sintonia fina: Você começa a somar os elementos e procurar a resultante dos vetores: Quero, mas não posso; Devo, mas não desejo; Discordo, mas me sujeito. Ainda nesse sentido, entram os sinais mais sutis: pupilas dilatadas ou contraídas, respiração mais ou menos profunda, respiração mais ou menos rápida, dinâmica do sorriso, movimento dos globos oculares, etc. Coisas que quem estudou Neurolinguística começa a entender.

Mas no final, a coisa fica estranha: você começa a simplesmente intuir. Você sabe que tem algo errado, mas não sabe por quê.

É aquela coisa que você entende com o canto do cérebro, que você vê com o canto dos olhos: um approach direto torna os detalhes invisíveis. É aquela história sobre Heisenberg e a Sua Mãe: Se você olhar de frente, você não vai conseguir ver nada.

É alguém tocando violino dentro do armário. Tem algo errado, mas não é nada aparente!

Você precisa ver sem olhar.

Porém, descobri essa semana (andando pela rua, pensando em comprar um par de sapatos e no sentido da vida) que existe MAIS UM problema na percepção do mundo.

Sim, mais um.

Não bastasse você não poder perguntar (porque a única coisa que alguém que pergunta descobre é aquilo que querem que ele saiba), não bastasse o fato de que você meramente observar influencia o comportamento da partícula, existe um terceiro elemento que fode tudo: o Ego (que como eu já disse, é como um pinto: se uma mulher acaricia, ele fica grande e fode tudo).

Raramente somos observadores imparciais. Nossos desejos influenciam muito nas nossas observações.

O seu cérebro não foi feito para ser imparcial. Alguns estudos (e eu não tô com saco de linkar Edit: Não tem lik, duh, eu li no “O Auto Engano”, do Gianetti) falam que em um grupo de pessoas que foram divididas de acordo com suas opiniões a respeito de assuntos polêmicos (favoráveis e contrários, por exemplo, ao aborto, pena de morte, eutanásia, etc.) foram expostos a grupos de argumentos contrários às suas crenças, em uma média de três argumentos coerentes e um absurdo.

Por exemplo, a respeito do aborto, sugeriram pra um grupo contrário ao aborto que: 1) a mulher tem o direito de escolha; 2) a proibição gera abortos clandestinos; 3) existem casos em que a vida da mãe está em risco; e 4) é uma forma de controle populacional de etnias indesejadas.

Resultado do experimento: as pessoas ficaram o tempo todo discutindo o argumento absurdo, e simplesmente “esqueceram” de ver os argumentos razoáveis.

Isso faz todo o sentido do mundo: Que me perdoem os poetas, mas somos todos descendentes de soldados. Desde antes de assumirmos a alcunha de “Homo Sapiens Sapiens“, nossos antepassados tinham como grande preocupação procriar e comer. Pra isso eles exterminavam outras tribos (“So bye, bye, dear neanderthais, stuck a spear into your spleen, and then I saw your kids die, and good homo sapiens started banging your wife, singing soon there’s gonna be just one tribe, soon there’s gonna be just one tribe…”) e pegavam os espólios.

E convenhamos: ficar em dúvida, pensando na legitimidade de se matar uma tribo e estuprar suas mulheres, não ajuda muito. A natureza não premia coisas boas: ela premia coisas eficientes. Se você quer um mundo com coisas boas,seja eficiente protegendo-as.

Nossos cérebros foram formados para satisfazer nossas necessidades biológicas básicas. O que te agrada, você guarda. O que te desagrada, você esquece.

E hoje carregamos essa ferramenta, que talvez, não seja mais a mais apropriada para a civilização e que nos leva a simplesmente ignorar alguns elementos, porque a realidade não é o que a gente gosta.

Por isso, muitas vezes alguns elementos que nos guiariam na decisão correta passam batido.

Mas não é só isso.

Por enquanto, falamos do seu cérebro filtrando informações. Mas isso é um passivo recuperável. Falando sério. Dá mesmo. Precisa de treino, mas dá. Com o passar do tempo, você desliga o filtro e passa a captar também os sinais ruins, apesar do seu cérebro não ajudar.

Mas aí vem a última barreira: Ego.

De repente, você começa a perceber quase que claramente tudo. Mas não quer que a realidade seja aquela.

Você vê, mas se ofusca, deliberadamente, fugindo da realidade. Se esconde no seu mundinho de fantasia. Usando o texto do Fábio: Ela me deu uma bota, mas ela vai voltar…

Não, não vai. Aceite. Você está vendo que ela não vai voltar. Você enxerga em todos os trejeitos, em todos os sorrisos travados, em todas fugas de olhares, em todo o constrangimento de como ocupar o espaço. É claro e cristalino. Você só tem que se esvaziar de Ego e aceitar.

A vovó está com câncer, mas vai sobreviver.

Não vai. Você sabe. Ela não quer sobreviver. Ela quer descansar. Faça as pazes e deixe-a ir em paz.

Pare de tentar sobrepor seu ego ao mundo. Se você quer enxergar o mundo, o primeiro passo é deixar de ser um menininho mimado que chora porque quer aquela namorada que você nem amava tanto assim.

Pára de ser moleque, coloca a roupa preta, e sobe o morro. Mas sobe armado, parceiro. Na calma, na paz, na tranquilidade. Sem correria. Olhou, fatiou, passou. Faz o seu que vai dar tudo certo.

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